miércoles, mayo 31, 2006

Hace unos minutos de la foto. Después del almuerzo. En la terraza – o la especie de torre de Rapunzel- Le digo así porque puedo estar el día entero en este apartamento si me dejan, y a veces ni sé cómo bajar. A veces ni bajo. La terraza está llena de plantas. Una amiga me pregunta si el verde es mi color favorito. Está en todas tus fotos, me dice. Es que no sé usar bien el Photoshop, le contesto. Cuando estaba allá, en el agujero blanco, pensaba en éste, el agujero negro, y me agobiaba. Estando acá, adoro los agujeros negros. Sin embargo, los aguacates están escasos. He ido a diario a la placita. Caminando. Y ya saben que espero el día en que los aguacates sean verdes y grandes como en mis recuerdos.

viernes, mayo 12, 2006


in the lining
a dance theater piece by Kristin Hapke

Performers: Alethea Adsitt,
Yari Alcaraz, Rachel Boggia, Kristin Hapke, Ellie Kusner, Ashley Mikal, Christina Providence.

a visual dance drama revealing the hidden affairs between woman in the turbulent 1930's. Set the score of music of the era, authentic love letters and air raid sirens, the cinematic atmosphere foregrounds love and desire while terrors of war, fear and homophobia hide in the haunting shadows.

Joyce SoHo Presents 2006
Thurs.-Sat. May 11-13, 8pm
Joyce SoHo Theater
100 Mercer St. (between Houston/Prince)
reservations 212-334-7479
foto de yari alcaraz por map. ny, 2006

viernes, mayo 05, 2006

Circuladô de fulô

circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie porque eu não
posso guiá eviva quem já meu deu circuladô de fulô e ainda quem falta me
dá soando como um shamisen e feito apenas com um arame tenso um cabo e
uma lata velha num fim de festafeira no pino do sol a pino mas para
outros não existia aquela música não podia porque não podia popular
aquela música se não canta não é popular se não afina não tintina não
tarantina e no entanto puxada na tripa da miséria na tripa tensa da mais
megera miséria física e doendo doendo como um prego na palma da mão um
ferrugem prego cego na palma espalma da mão coração exposto como um nervo
tenso retenso um renegro prego cego durando na palma polpa da mão ao sol
enquanto vendem por magros cruzeiros aquelas cuias onde a boa forma é
magreza fina da matéria mofina forma de fome o barro malcozido no choco
do desgôsto até que os outros vomitem os seus pratos plásticos de bordados
rebordos estilo império para a megera miséria pois isto é popular para
os patronos do povo mas o povo cria mas o povo engenha mas o povo cavila
o povo é o inventalínguas na malícia da mestria no matreiro da maravilha
no visgo do improviso tenteando a travessia azeitava o eixo do sol
pois não tinha serventia metáfora pura ou quase o povo é o melhor artífice
no seu martelo galopado no crivo do impossível no vivo do inviável
no crisol do incrível do seu galope martelado e azeite e eixo do sol
mas aquele fio aquele fio aquele gumefio azucrinado dentedoendo como
um fio demente plangendo seu viúvo desacorde num ruivo brasa de uivo
esfaima circuladô de fulô circulado de fulô circuladô de fulôôô
porque eu não posso guiá veja este livro material de consumo este aodeus
aodemodarálivro que eu arrumo e desarrumo que eu uno e desuno vagagem
de vagamundo na virada do mundo que deus que demo te guie então porque eu
não posso não ouso não pouso não troço não toco não troco senão nos meus
miúdos nos meus réis nos meus anéis nos meus dez nos meus menos nos meus
nadas nas minhas penas nas antenas nas galenas nessas ninhas mais pequenas
chamadas de ninharias como veremos verbenas açúcares açucenas ou
circunstâncias somenas tudo isso eu sei não conta tudo isso desaponta não
sei mas ouça como canta louve como conta prove como dança e não peça que
eu te guie não peça despeça que eu te guie desguie que eu te peça promessa
que eu te fie me deixe me esqueça me largue me desamargue que no fim eu
acerto que no fim eu reverto que no fim eu conserto e para o fim me reservo
e se verá que estou certo e se verá que tem jeito e se verá que está feito
que pelo torto fiz direito que quem faz cesto faz cento se não guio
não lamento pois o mestre que me ensinou já não dá ensinamento bagagem de
miramundo na miragem do segundo que pelo avesso fui destro sendo avesso
pelo sestro não guio porque não guio porque não posso guiá e não me peça
memento mas more no meu momento desmande meu mandamento e não fie desafie
e não confie desfie que pelo sim pelo não para mim prefiro o não
no senão do sim ponha o não no im de mim ponha o não o não será tua demão


Haroldo de Campos
De Galáxias, 1963
En: Os Cem Melhores Poemas Brasileros do Céculo. Objetiva, Río de Janeiro, 2001: 303-304



Este poema de Haroldo me recuerda los Cantos de Ezra Pound. Caetano se come a Haroldo que se comió a Oswald que se comió el Cantar de los Cantares y “solo la antropogafia nos une”. Hermosa versión del poema la musicalización de Caetano. Que la disfruten.



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